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Resultados da Micronagem da lã

Autores: Marina de Vasconcellos e Leonardo Santos Farion

Acreditamos que a parte mais importante de uma nova tecnologia vai muito além de difundi-la, de levá-la a todos os lugares, de alcançar números – mais de 50 mil amostras analisadas. Uma nova técnica precisa chegar ao produtor e fazer sentido, trazer retorno, produtivo e econômico. Neste sentido este conteúdo terá como eixo principal demonstrar ao produtor e a quem vier interessar como usar os resultados disponibilizados pelo OFDA2000.

Uma pergunta frequente é como interpretar o laudo de micronagem, então vamos lá:

Animal Eartag – é onde ficam dispostas as tatuagens ou brincos dos animais na ordem de numeração.

Mic Ave – é a média das oscilações encontradas ao longo da mecha. Quando se monta a amostra para o aparelho ler a mesma é colocada com a ponta para cima, ou seja, a primeira fibra a ser expulsa pelo bulbo, a ponta do velo, até a base. Assim quando observamos o gráfico gerado pelo OFDA2000 notamos as oscilações do diâmetro ao longo da fibra e conseguimos associa-las com manejos e situações fisiológicas e/ou nutricionais enfrentadas pelo rebanho. Esse resultado sempre será a média das fibras encontradas na amostra, nunca vai ser uma finura única, quanto maior a mecha a ser lida maior a assertividade da média e consequentemente mais precisa a finura. É importante ressaltar que o aparelho já consegue ler uma amostra a partir de 3 cm de mecha (30 mm).

A concentração das fibras da amostra a esquerda e a direita a oscilação delas ao longo do desenvolvimento da amostra, assim como o ponto mínimo e máximo.

Mic Dev – é o quanto a média daquele animal oscilou da média geral do lote medido.

Ilustra a distribuição da amostra de acordo com a média.

CV Mic – é o Coeficiente de Variação do Diâmetro. É o quanto oscila a micronagem ao longo do desenvolvimento da fibra, quanto mais homogêneo for a mecha menor é essa medida. Para elucidar este dado trazemos como exemplo o fato de que em mais de 50 mil amostras analisadas durante o período de setembro de 2013 a março de 2018 na Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO) sob a responsabilidade do técnico Leonardo Farion, o menor coeficiente de variação (CV) encontrado foi de 12%, o que significa uma variação de 1 micra na finura total da amostra, provavelmente oriunda de animal que não sofreu quase nenhum tipo de desafio no ano produtivo, ou uma fêmea submetida a tosquia pré-parto. Este coeficiente está muito ligado com a Máxima e a Mínima finura encontrados ao longo da fibra, podemos notar na figura abaixo que a mínima micra é 33 e a máxima 41 mostrando a disparidade da formação da fibra ao longo do seu desenvolvimento e reparem que a fibra mais fina esta a 5 cm da ponta da mecha mostrando um futuro ponto de estrangulamento da mesma e assim provável ruptura perdendo qualidade e revelando algum problema que o anima passou e se refletiu no velo.

Gráfico: desenvolvimento da fibra com seus valores máximos 41,1 e mínimos 33.

Gráfico: importância de um baixo coeficiente de variação do diâmetro.

SL mm – Comprimento da mecha que foi coletado. Parâmetro importante que deve ser levado em conta, pois animais comparados dentro de um mesmo lote, que tiveram um mesmo manejo devem apresentar um comprimento de mecha semelhante, uma grande variação de um ou mais indivíduos deve ser investigada, observando que característica ou situação o levou a produzir um comprimento de mecha fora da média de seus pares. Somente comparar animais de um mesmo ambiente e estado fisiológico. Outro ponto a ser ressaltado é a forma de coleta, tesouras diferentes e técnicos diferentes podem alterar o comprimento de mecha coletado.

Min. Mic – é a mínima finura encontrada na amostra.

Max. Mic – máxima finura encontrada na amostra.

FPFT – é o tamanho em milímetros entre o início da mecha até o ponto mais fino, assim demonstrando o provável ponto de ruptura desta quanto submetida a cardagem industrial, este dado é valorizado pela indústria, uma vez que mechas de bom tamanho antes da ruptura podem ser aproveitas em uma variedade maior de produtos. 

CRV dg/mm – é a curvatura da amostra em graus, é o ângulo da ondulação. Antigamente através desta característica era dimensionada a finura da amostra, porém estudos e avaliações comparativas nos mostram que este método pode ser errôneo quando analisamos lãs modernas, pois estas tendem a ter um ângulo menor sem perder finura e apresentam um melhor aproveitamento industrial. Em uma avaliação visual e de toque a suavidade é muito mais importante que o número de ondulações ao longo da mecha.

Ângulo da fibra e sua importância

SDC dg/mm – é o desvio da curvatura, ou seja, a oscilação do caráter de todas a fibras medidas na amostra, resultado em graus.

CF% – é a porcentagens de fibra menores que 30 micras. Utilizada para lãs finas destinadas a produção de roupas de altíssimas qualidades, quanto maior a porcentagem, melhor será a utilização desta lã na indústria e também maior o conforto das peças produzidas a partir desta, pois são as fibras com finura maior que 30 que pinicam e deixam as peças desconfortáveis.

Mostra a o fator de conforto e a % de fibras menores que 15 micras.

Menores que 15% (<15%) – é a porcentagem de fibras menores que 15 micras. Informação usada na raça Merino Australiano para selecionar animais com baixas finuras, mas sempre observando os demais resultados, pois sozinho qualquer dado pode ser mal utilizado.

Nestes doze itens descritos acima já conseguimos ter a interpretação básica de um laudo de micronagem. Como já ressaltado em outras publicações esses valores não devem ser usados de forma isolada para a seleção do rebanho. Acreditamos que este laudo deve ser levado para mangueira, ou seja, analisado animal por animal, fatores como tamanho corporal, peso de velo produzido, cordeiros desmamados entre outros que o produtor e o técnico acharem importantes para a sua produção.

Ficar atento, pois geralmente medidas encontradas em borregas de até 2 dentes (12 meses) tendem a ser mais finas devido a vários fatores de manejo (desmame, sanitário, nutrição) e outros inúmeros fatores que influenciam a fibra no seu desenvolvimento do como um todo. Por isso às vezes precisamos ter cuidado com esses primeiros resultados de animais jovens que estão em desenvolvendo, pois, o primeiro velo é imaturo, e sofre algumas alterações, porém defeitos graves dificilmente serão corrigidos.

Acreditamos que a partir destas descrições você consiga fazer um uso mais objetivo das suas análises de micronagem da lã do rebanho. E que esta nova ferramenta seja mais uma aliada na busca por excelência de produção.

Artigo publicado em 24/11/2020
Texto de responsabilidade dos Autores.


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