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Melhoramento genético e mosca da bicheira na pauta da reunião da Câmara Nacional de Caprinos e Ovinos

Controle da micoplasmose e abigeato também fizeram parte das discussões
Ascom Expointer

Durante a manhã da última quinta-feira,(31/08), o auditório do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-RS) na Expointer sediou a 70ª reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos. Para se ter uma ideia do potencial do setor, o rebanho nacional de ovinos, em 2021, já ultrapassava 20 milhões de cabeças, e o de caprinos, quase 12 milhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Promovido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o evento reuniu, de forma híbrida, representantes dos setores público e privado do Brasil e do Uruguai, para tratar de pauta extensa do setor aliando integrantes de associações e sindicatos, da área de segurança pública, produtores, pesquisadores e público interessado.

O atual presidente da Câmara, o caprinocultor pernambucano Pedro Alcântara Martins Junior, destacou cinco eixos fundamentais para o desenvolvimento do setor: a criação de um plano estratégico, a identificação eletrônica do rebanho, a avaliação genética e de produto, a classificação da carcaça de caprinos e ovinos e a criação de um sistema de redução de emissão de gases de efeito estufa.

“Além de prestigiar os ovinocultores e caprinocultores da região sul, as principais temáticas desta reunião extraordinária tratam dos problemas do abigeato e da mosca da bicheira que precisa de uma ação bilateral dos governo do Brasil e do Uruguai”, ressaltou Pedro Martins. 

Avaliação Genética

Outra pauta da Reunião da Câmara Setorial foi a de situação atual e projeções sobre avaliações genéticas de caprinos e ovinos no Brasil. Além da experiência da empresa Biodata Ciência de Dados para avaliações e melhoramento genético de ovinos, a Embrapa apresentou seus programas e ações para caprinos leiteiros (por meio do programa Capragene®), caprinos de corte e ovinos deslanados.

A pesquisadora Ana Maria Lôbo, da Embrapa Caprinos e Ovinos, destacou os avanços do Capragene® em termos de escrituração zootécnica e controle leiteiro nos rebanhos participantes, desde 2006. Entre os principais resultados entregues ao setor produtivo, quatro sumários de avaliação genética, que disponibilizam ao público informações sobre os animais de maior potencial genético, permitindo aos criadores usar as estratégias de seleção e acasalamento mais apropriadas.

Já as ações da Embrapa de melhoramento genético para caprinos e ovinos de corte foram apresentadas pelo pesquisador Olivardo Facó, da Embrapa Caprinos e Ovinos. Ele fez um resgate de experiências com programas e núcleos de melhoramento animal, cujos avanços resultaram em ferramentas hoje disponíveis para o setor produtivo, como o Sistema de Gerenciamento de Rebanhos (SGR) e o aplicativo SGR Mobile.

Combate ao crime e ao abigeato 

Fiscalização de fronteiras e combate ao crime e ao abigeato foram os destaques apresentados pelo Tenente-Coronel Felipe Costa Santos Rocha, comandante do Batalhão de Operações Especiais (BOPE). “Desde o ano passado, a Brigada Militar desenvolve uma operação específica nesta área de campo que é a operação Agro-Hórus, que começou na área de fronteira e que, neste ano, essa metodologia se desenvolveu para todo o Rio Grande do Sul”.

O Tenente-Coronel explicou que o Programa Sentinela, desenvolvido pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e a Operação Agro-Hórus tem ações relacionadas e complementares: “O Sentinela tem mais a ver com a questão sanitária, com o pessoal do Comando Ambiental apoiando a Secretaria de Agricultura, e o Agro-Hórus, com a questão criminal, do contrabando e do tráfico de drogas”.

Controle da mosca da bicheira

Outro grande tema da reunião foi o intercâmbio de experiências e a proposta de ações para enfrentar a mosca da bicheira que envolve a participação do Uruguai e do Brasil.

“Como o programa do Uruguai está por começar em breve, é muito importante que estejamos alinhados com eles porque isto vai afetar diretamente o Rio Grande do Sul, inclusive, porque a proposta uruguaia engloba uma área de fronteira de 50 quilômetros pra dentro do Brasil”, avaliou a médica veterinária Nathalia Bidone, coordenadora do Programa Estadual de Sanidade Ovina (Proeso) da Seapi.

Romeo Volonté, coordenador do programa de controle da mosca da bicheira, do Ministério da Agricultura do Uruguai, explicou como será o processo da erradicação. “Nós temos uma fronteira com cerca de mil quilômetros com o Brasil. A enfermidade da bicheira é uma ameaça transfonteiriça, pois a mosca não conhece barreiras. O que prevê o programa uruguaio é dividir o Uruguai em quatro zonas e ir liberando de sul a norte, em um período que pode chegar um ano em cada zona”.

A reunião contou ainda com a presença do Ministro da Agricultura do Uruguai, Fernando Mattos, que explicou como o programa vai funcionar. “É um programa que tem tido sucesso em nove países. Uma técnica que se desenvolveu a partir da década de 1950 no Estados Unidos. Um sistema de controle biológico através da esterilização da mosca nativa até sua erradicação. Já temos uma agenda de intercâmbio de atividades sanitárias entre ambos os países. Este é só um capítulo a mais. O Uruguai já está decidido política e tecnicamente”, concluiu o ministro uruguaio.

A mosca da bicheira é uma enfermidade parasitária dos animais de sangue quente, causando lesões graves e trazendo muitas perdas para a economia dos países afetados.

Outro tema do encontro foi a apresentação do programa Rotas de Integração Nacional (ROTAS) do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

“Umas das cadeias produtivas prioritárias é o fortalecimento da Rota do Cordeiro a partir de uma perspectiva da economia circular. Por exemplo, o trabalho com resíduos aligeirados que visa proporcionar dentro de abatedouros, curtumes e laticínios alguma forma de tratar melhor os dejetos e tornar isso, de fato, proventos e lucros”, elucidou Tiago Araújo, coordenador-geral de Sistemas Produtivos e Inovadores do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR).

Plano para controle de micoplasmose em rebanhos

Um plano para controle de micoplasmoses nos rebanhos brasileiros foi apresentado na Reunião. Este grupo de doenças, que abrange Agalaxia Contagiosa, Ceratoconjuntivite e Pleuropneumonia Contagiosa Caprina, pode prejudicar até 90% da produção de leite caprino, além de outros impactos como ocorrência de mastite, problemas respiratórios, perdas reprodutivas e mortalidade de animais.

O plano é resultado de Grupo de Trabalho que foi coordenado pelo chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Caprinos e Ovinos, Cícero Lucena, e pelo médico-veterinário Paulo Gertner, e envolveu outros 13 pesquisadores, da Embrapa e de universidades brasileiras. A orientação, apresentada à Câmara Setorial, indica a necessidade de validação de testes de diagnóstico, desenvolvimento de testes rápidos para identificação da Agalaxia Contagiosa, realização de estudos de prevalência das micoplasmoses, apoio para validação de vacina e testes de medicamentos.

A expectativa é que, após uma última etapa do plano, kits para diagnósticos e medicamentos sejam disponibilizados para o setor produtivo, ajudando no controle das doenças. "Os impactos são alarmantes. As perdas econômicas podem chegar a R$ 35 milhões, prejudicando, principalmente a agricultura familiar. Mas temos casos de ações em países como a Espanha, em que a disseminação foi controlada, e também podemos evitar que micoplasmoses se alastrem pelo Brasil", ressaltou Cícero Lucena.

Integrantes do Grupo de Trabalho também destacaram a necessidade da adoção de um plano de controle em um prazo breve. "É urgente que o Ministério dê devida atenção a esse problema, incluindo a necessidade de abreviar trâmites para termos testes de diagnóstico e vacina", ressaltou Paulo Gertner. "Se não tomarmos a frente, as micoplasmoses, em conjunto com outras doenças, podem prejudicar muito a produção de caprinos e ovinos no Brasil", afirmou Selmo Alves, pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos. Após a apresentação à Câmara Setorial, a ideia é de busca de fomento para financiar a implantação das medidas do plano de controle, que tem duração estimada de trinta meses para aplicação de todas as ações.

As micoplasmoses podem ser transmitidas nos rebanhos a partir do contato entre animais sadios e doentes ou pela contaminação no ambiente por secreções nasais, fezes e urinas. Entre animais jovens, a transmissão também pode acontecer via leite e colostro contaminados. A prevenção envolve diagnósticos periódicos no rebanho, medidas higiênicas no processo de ordenha e outras recomendações. 

Notícia adaptada pela Equipe Capril Virtual com informações Ascom Expointer/ Embrapa (04/09/2023)

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