São Paulo
Pesquisa se antecipa e tenta vencer resistência a vermífugo antes que ela se manifeste em ovinosNo dia 21 de junho foi realizada mais uma etapa do experimento, que faz parte de um projeto de pesquisa que busca identificar marcadores moleculares de resistência a vermífugos no parasita Haemonchus contortus. Esse parasita se instala no abomaso de pequenos ruminantes (o abomaso é o último dos quatro estômagos desses animais, onde ocorre o processo químico da digestão).
A pesquisadora Simone Cristina Méo Niciura explica que trabalhar com marcadores moleculares é semelhante a identificar o código de barras do parasita. Na sequência de genes do DNA dos parasitas existem bases que indicam se ele é sensível ou resistente ao novo medicamento. Para obter essa informação - valiosa para a pesquisa - a equipe de Simone está recorrendo a cruzamentos genéticos entre os parasitas no abomaso dos animais.
"Sabe-se que a verminose é um dos maiores problemas na criação de ovinos, e que os vermes rapidamente desenvolvem resistência aos vermífugos, que é o principal método de controle da verminose", explica a pesquisadora. O lançamento recente do monepantel trouxe esperança aos criadores, mas a pesquisa precisa agir antes que os parasitas se tornem resistentes a ele também.
"Os parasitas gastrintestinais de ovinos estavam resistentes aos vermífugos existentes no mercado, ou seja, os tratamentos com vermífugo não conseguiam controlar a verminose. O monepantel passou a ser o único vermífugo capaz de controlar a verminose na maioria dos rebanhos ovinos do Brasil e do mundo", disse Simone.
A pesquisa, financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e apropriada pelo Sistema Embrapa de Gestão, propõe identificar os marcadores moleculares de resistência ao monepantel de modo que seja possível identificar o aparecimento da resistência bem no início, precocemente, antes que ela se dissemine no rebanho.
MÉTODO
Para identificar os marcadores moleculares de resistência é preciso induzir a resistência nos parasitas. A indução da resistência pela utilização de subdoses crescentes de monepantel foi tentada durante um ano, mas não se conseguiu atingir a resistência à dose de bula desse vermífugo.
Segundo Simone, isso motivou a busca por uma nova estratégia: a de cruzamento entre parasitas resistentes com parasitas sensíveis ao monepantel. "Para a realização dessa técnica, é preciso utilizar o primeiro estágio do parasita em que é possível separar machos e fêmeas (para fazer os cruzamentos), e esse estágio, chamado de L4, só é encontrado no abomaso do hospedeiro ovino", justifica a pesquisadora.
Depois disso, são separadas as larvas fêmeas e machos e as larvas fêmeas resistentes são misturadas com as larvas machos sensíveis (e vice-versa) e inoculadas diretamente no abomaso de um outro ovino receptor, por meio de cirurgia. Em seguida, esses parasitas se reproduzem e geram os descendentes, chamados de F1, que serão recuperados nas fezes dos animais, cultivados e transferidos para novos hospedeiros por via oral.
Nas fezes desses últimos hospedeiros é que serão selecionados os descendentes, população F2, que será resistente ao monepantel e será destinada ao sequenciamento genômico para a busca por marcadores moleculares. Então haverá mais um ciclo de infecção de outros animais, por via oral, até que os parasitas resistentes possam ser recuperados nas fezes. Daí será feita a extração do DNA e o genoma desses parasitas será sequenciado e analisado para a identificação dos marcadores moleculares.
Simone disse que esse projeto altera a forma de fazer a pesquisa. "Anteriormente, estudávamos os marcadores moleculares gene a gene. Esse vai ser o primeiro estudo em que faremos essa pesquisa no genoma inteiro do parasita. Ao nosso conhecimento, essa é a primeira vez que a técnica será usada para identificar marcadores moleculares de resistência, em escala genômica, ao monepantel no parasita Haemonchus contortus", conta.
Se o objetivo da pesquisa for atingido, o projeto vai contribuir para a compreensão do mecanismo de desenvolvimento de resistência ao vermífugo monepantel no parasita Haemonchus contortus. Com isso, será possível usar marcadores moleculares para a detecção precoce de resistência. "Além disso, essa informação poderá ser usada, em projetos futuros, para o desenvolvimento de novos fármacos ou métodos para o controle da verminose em ovinos", finaliza a pesquisadora.
A pesquisa de campo envolve o trabalho de uma equipe bastante comprometida de vários setores da Embrapa Pecuária Sudeste, além de uma parceria com o professor Alessandro Amarante, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu.
Notícia adaptada pela Equipe Capril Virtual com informações Embrapa Pecuária Sudeste (18/07/2017)